terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Solenidade da Santa Mãe de Deus Maria - Santa Missa Conventual


A Sagrada Liturgia consagrou à Mãe de Deus, a conclusão da oitava do Natal, que coincide com o início do Ano civil e que, conforme o evangelho, é o dia em que impuseram o nome de Jesus: “Quando completaram os oito dias para a circuncisão do menino, deram-lhe o nome de Jesus, como fora chamado pelo anjo antes de ser concebido” [1].

A partir do tema do Nome de Jesus, explicitamente declarado no evangelho de hoje, compreendemos a 1ª. Leitura com o texto da benção sacerdotal, sugerida pelo próprio Deus: Ao abençoar os filhos de Israel, dizei-lhe: O Senhor te abençoe e te guarde! O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face, e se compadeça de ti... Assim invocarão o meu nome... e eu os abençoarei”[2].

Outrora esta bênção era reservada aos filhos de Israel, agora, em Cristo, a bênção do Pai estende-se a todas as nações. É em Cristo Jesus, nos diz S. Paulo, que “Deus abençoa com todas as bênçãos espirituais” [3] a todos aqueles que buscam a Deus com o coração sincero.[4]

Assim, a melhor maneira de iniciarmos este novo ano é invocando o nome de Deus para dEle receber o dom precioso da paz.

Paz, tão necessária aos nossos tempos cada vez mais imersos em tantos problemas, sobretudo no tocante à convivência humana. Quantas guerras, quantas injustiças que clamam os céus,

Por essa razão há exatamente quarenta anos atrás o Servo de Deus o papa Paulo VI, iniciou a comemoração do “Dia Mundial da Paz”, tão enfatizada pelo seu sucessor e também Servo de Deus, o papa João Paulo II. Neste ano, o nosso Santo Padre Bento XVI, na tradicional mensagem concernente a esta efeméride, escreveu: No início de um ano novo, desejo fazer chegar meus ardentes votos de paz, acompanhados duma calorosa mensagem de esperança, aos homens e mulheres do mundo inteiro; faço-o, propondo à reflexão comum o tema com que abri esta mensagem e que me está particularmente a peito: “Família humana, comunidade de paz”. Com efeito, a primeira forma de comunhão entre pessoas é a que o amor suscita entre um homem e uma mulher decididos a unir-se estavelmente para construírem juntos uma nova família. Entretanto, os povos da terra também são chamados a instaurar entre si relações de solidariedade e colaboração, como convém em membros da única família humana: « Os homens – sentenciou o Concílio Vaticano II constituem todos uma só comunidade; todos têm a mesma origem, pois foi Deus quem fez habitar em toda a terra o inteiro gênero humano[5]; têm também todos um só fim último, Deus ».[6]

Sim, a verdadeira paz brota do amor, da caridade, do respeito sincero a toda pessoa humana. Respeito e amor que nasce no seio da família humana que, no dizer do Santo Padre, é comunhão íntima de vida e de amor fundada sobre o matrimônio entre um homem e uma mulher, e que, por isso, constitui « o lugar primário da ‘‘humanização” da pessoa e da sociedade », o «berço da vida e do amor ».

Por conta disso, não se pode falar em paz, sem se falar também da importância da família humana. Que pode haver na terra mais feliz e alegre que a família cristã? – escreveu o venerável papa Pio XII – Nascida junto ao altar do Senhor, onde o amor foi proclamado santo vínculo indissolúvel, consolida-se e cresce no mesmo amor que a graça superna alimenta.[7]

É neste sentido que Bento XVI, na citada Mensagem, nos ensina que a família é justamente designada como a primeira sociedade natural, « uma instituição divina colocada como fundamento da vida das pessoas, como protótipo de todo o ordenamento social»[8], E mais ainda, é ela a primeira a primeira e insubstituível educadora para a paz[9]. Querer construir uma sociedade de paz, sem uma atenção e um cuidado todo especial à família humana, é construir sobre a areia e o vento. Onde poderá o ser humano em formação aprender melhor a apreciar o «sabor» genuíno da paz – questiona-nos enfaticamente o Santo Padre – do que no «ninho » primordial que a natureza lhe prepara?[10]

Não é de admirar, portanto que, ao lado de tantas guerras e lutas insanas que assolam o nosso mundo, está um verdadeiro combate a instituição familiar querida por Deus, tornando a paz uma mera palavra poética ou quimérica. Por isso, diz-nos enfaticamente o Santo Padre que quem, mesmo inconscientemente, combate o instituto familiar, debilita a paz na comunidade inteira, nacional e internacional, porque enfraquece aquela que é efetivamente a principal « agência » de paz. Este é um ponto que merece especial reflexão: tudo o que contribui para debilitar a família fundada sobre o matrimônio de um homem e uma mulher, aquilo que direta ou indiretamente refreia a sua abertura ao acolhimento responsável de uma nova vida, o que dificulta o seu direito de ser a primeira responsável pela educação dos filhos, constitui um impedimento objetivo no caminho da paz. [11]

E no seu discurso de abertura da V Conferência do Episcopado da América Latina e do Caribe, em Aparecida, no ano passado, disse: A família, “patrimônio da humanidade”, constituiu um dos tesouros mais importantes dos povos latino-americanos. Ela foi e é escola de fé, palestra de valores humanos e cívicos, lar em que a vida humana nasce e é acolhida generosa e responsavelmente. No entanto, na atualidade sofre situações provocadas pelo secularismo e pelo relativismo ético, pelos diversos fluxos migratórios internos e externos, pela pobreza, pela instabilidade social e por legislações civis contrárias ao matrimônio que, ao favorecer os anticoncepcionais e o aborto, ameaçam o futuro dos povos. [12]

Todavia, a importância dada à família, não se limita a uma casa física, mas deve estender-se à grande família da humanidade. Para esta a casa é a terra, o ambiente que Deus criador nos deu para que o habitássemos com criatividade e responsabilidade. Por isso, exorta-nos o Santo Padre: Devemos cuidar do ambiente: este foi confiado ao homem, para que o guarde e cultive com liberdade responsável, tendo sempre como critério orientador o bem de todos. Obviamente, o ser humano tem um primado de valor sobre toda a criação. Respeitar o ambiente não significa considerar a natureza material ou animal mais importante do que o homem; quer dizer antes não a considerar egoisticamente à completa disposição dos próprios interesses, porque as gerações futuras também têm o direito de beneficiar da criação, exprimindo nela a mesma liberdade responsável que reivindicamos para nós.[13]

O amor de Deus, manifestado no Mistério da Encarnação que hora celebramos, deve nos inspirar a vivermos uma verdadeira aliança de amor também com o mundo que nos cerca.

Contudo, não nos esqueçamos que esta preocupação com a família e com o mundo, deve ser igualmente a nossa preocupação. Não podemos ler esta mensagem do santo Padre como algo distante, mas como um verdadeiro “envio missionário”. Cabem aqui as contundentes palavras de São João Crisóstomo: “Cristão, tu prestarás conta do mundo”.

E neste envio que o Santo Padre nos hoje nos faz no início do ano, contamos com o exemplo e a intercessão de nossa Mãe Maria Santíssima. Ela, que é invocada como Rainha da Paz e Rainha da Família, nos fortalecerá!

Por isso que a Igreja, ao invocar hoje a bênção de Deus, o faz por intermédio da Santíssima Virgem: Ó Deus...dai-nos contar sempre com a sua intercessão, pois ela nos trouxe o autor da vida. [14]

A bênção de Deus adquire, por assim dizer, um tom materno: são os fiéis abençoados em Jesus, por intercessão de Maria, porque somente a pureza e o amor desta humilde Virgem os tornam dignos de “receberem o autor da vida”.

E a presença desta amorosa Mãe é firme e ao mesmo tempo discreta, como o sal e o fermento. Na segunda leitura S. Paulo menciona-a, mas não a nomeia, salientando unicamente que “Deus enviou o Seu Filho nascido de uma mulher... para que todos recebêssemos a filiação adotiva”[15]. A graça da adoção chega aos homens através de Maria a qual, sendo Mãe de Cristo, é também Mãe dos que, em Cristo, se tornam filhos de Deus.

Também no Santo Evangelho é humilde e discreta a presença de Maria Santíssima, no ato de cumprir o seu ofício de Mãe. A narração deixa entrever que Maria recebe os pastores e alegremente lhes mostra Jesus, ouvindo com serenidade o seu testemunho. Os pastores, quais primeiros missionários, partem “glorificando e louvando a Deus por tudo que tinham visto e ouvido”[16]. Maria Santíssima, qual observante monja, numa virginal estabilidade, permanece junto do Seu divino Filho, na clausura da contemplação, onde “guarda todos esses fatos meditando sobre eles em seu coração”.[17]

Amados irmãos e irmãs, que ao proclamarmos hoje a Virgem Maria, Mãe de Deus e Mãe da Igreja, possamos tomar consciência da nossa vocação missionária de sermos verdadeiros artífices da paz, apóstolos da família, lembrando-nos que não temos o direito de reclamar um mundo melhor se não o começamos em nosso próprio coração. [18]

[1] Lc 2, 21
[2] Nm 6, 23-27
[3] Ef 1, 3
[4] Cf. Missal Romano, Oração Eucarística IV
[5] At 17, 26
[6] Mensagem para o Dia Mundial da Paz por S.S. o Papa Bento XVI, nº. 1
[7] Carta Encíclica “Sertum Laetitiae” por ocasião do 150º. Aniversário da constituição da hierarquia eclesiástica nos Estados Unidos da América, por S. S. o Papa Pio XII, em 01º. de novembro de 1939, nº. 8
[8] Mensagem para o Dia Mundial da Paz por S.S. o Papa Bento XVI, nº. 2
[9] Idem, no. 3
[10] Idem
[11] Idem nº. 5
[12] Discurso do Papa Bento XVI na sessão inaugural da V Conferência Geral do Episcopado da América latina e do Caribe. Aparecida, 13 de maio de 2007.
[13] Mensagem para o Dia Mundial da Paz por S.S. o Papa Bento XVI, nº. 7
[14] Missal Romano, Oração do Dia.
[15] Gl 4, 4.5
[16] Lc 2, 20
[17] Lc 2, 19
[18] K. Rahner

Um comentário:

Anônimo disse...

Tomei a Liberdade de adicionar Verbum Domini no Blogs Católicos.

Peço-lhe se possível inserir o link do Blogs Católicos no seu blog. Desde já obrigado!

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